Surfista baiano morre em onda gigante de Nazaré, em Portugal

Um dos pioneiros no surfe de ondas gigantes, o baiano Márcio Freire, 47, morreu na tarde desta quinta-feira (5) após sofrer um acidente no mar da praia do Norte, na cidade de Nazaré, no centro de Portugal.

A região, que é conhecida pelas grandes ondulações, atrai surfistas de todo o mundo e já foi palco de acidentes graves, como o ocorrido com a também brasileira Maya Gabeira em 2013. Márcio Freire, no entanto, foi a primeira vítima de um acidente fatal registrado no chamado “Canhão da Nazaré”.

Segundo informações da Polícia Marítima, o surfista foi resgatado e rebocado de moto aquática até a areia, onde os salva-vidas constataram que ele se encontrava em parada cardiorrespiratória. As manobras de reanimação começaram imediatamente e prosseguiram até a chegada das equipes de socorro.

“Após várias tentativas [de reanimação], não foi possível reverter a situação, tendo o óbito sido declarado no local pelos elementos do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica)”, afirma, em nota, a autoridade marítima portuguesa.

O corpo do atleta foi transportado para o Instituto de Medicina Legal de Leiria.

De acordo com frequentadores da praia do Norte, as ondas no momento do acidente estavam com cerca de 6 metros. O recorde de maior onda surfada no local é de 26,2 metros.

Familiares do atleta estavam na praia no momento e estão recebendo apoio do gabinete de psicologia da Polícia Marítima.

Natural da Bahia, Márcio Freire foi um dos pioneiros no surfe de ondas gigantes. O atleta colecionou aventuras em praias de todo o mundo.

Em 1998, o surfista desembarcou em Maui, no Havaí, onde começou a chamar a atenção no esporte.

Sua atuação em terras havaianas, sem equipamentos de segurança e encarando a temida onda Jaws “na remada” (sem jet ski), fez com que recebesse, junto com Danilo Couto e Yuri Soledade, o apelido de “mad dog” (cachorro louco).

A história do trio foi contada em 2016 no documentário “Mad Dogs”.

Em entrevista ao canal Let’s Surf, em novembro de 2022, Márcio Freire afirmou que a produção foi uma das poucas ocasiões em que ganhou dinheiro com o esporte. “Nunca vivi do surfe, nunca ganhei dinheiro com surfe”, afirmou ele. Ele disse que trabalhava com tudo o que podia para se autopatrocinar.

“Como as empresas nos Estados Unidos não iam patrocinar um brasileiro, e eu estava fora do Brasil, era mais difícil de negociar. E eu também não corria muito atrás porque estava me bancando, vivendo minha vida.”.

Nas redes sociais, o baiano publicava diversos registros em cima das pranchas. As últimas cinco publicações do surfista foram feitas em Portugal. Em uma sequência de fotos e vídeos, em 4 de dezembro, ela declara sua admiração pela praia do Norte, em Nazaré. “Lugar lindo, onde as ondas são incríveis de grande”, escreveu.

UM VERDADEIRO HERÓI

Nas redes sociais, surfistas amadores e profissionais lamentam a morte do “mad dog”. Muitos deles também estão em Nazaré, que tem agora, no inverno europeu, sua principal temporada de ondas gigantes.

O surfista luso alemão Nic von Rupp prestou homenagem em uma publicação. No texto, ele afirma que viu Márcio Freire surfar “o dia inteiro com um enorme sorriso”, e é justamente com essa imagem que vai se lembrar do brasileiro.

“Hoje nós perdemos um dos nossos. Sempre tive muito respeito pelo Márcio como um dos pioneiros em Jaws”, destacou.

O brasileiro Rodrigo Koxa, que entrou para o livro dos recordes com uma onda gigante surfada em Nazaré, exaltou o legado de Márcio Freire. “Que o oceano seja seu templo, meu irmão. Sentiremos saudades”, escreveu.

Outro especialista em ondas gigantes, Thiago Jacaré, que também está em Nazaré, exaltou as qualidades do amigo.

“Mais que um ídolo, um verdadeiro herói e exemplo de pessoa. Sentirei muito sua falta”, disse.

MAYA GABEIRA

Em 2013, uma onda gigante da Praia do Norte, em Nazaré, quase matou a brasileira Maya Gabeira. A surfista tentava bater o recorde de maior onda surfada, que à época pertencia ao norte-americano Garrett McNamara —78 pés ou 23,8 m.

Assim que caiu da prancha, ela foi engolida pela água, que a envolveu em um turbilhão.

A sequência de ondas pesadas sobre seu corpo a deixou inconsciente e quebrou seu tornozelo direito. Foi resgatada e levada para a areia, onde precisou ser reanimada.

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