Nesta terça-feira (17), a Organização de Auxílio Fraterno (OAF) reunirá crianças e adolescentes institucionalizados, funcionários, diretoria, colaboradores e autoridades para celebrar os 65 anos de sua fundação, às 09horas, no auditório da instituição. Na ocasião, representantes da sociedade civil e de instituições públicas e privadas que se destacaram no âmbito social serão homenageados.
“Não é fácil manter esse trabalho e essa é uma forma de agradecer às pessoas que fazem com que instituições como a OAF permaneçam com as portas abertas e dando assistência para quem mais precisa”, lembra o diretor-presidente, Jozias Sousa.
Ao longo de todo o mês de outubro, a OAF tem realizado atividades em comemoração ao aniversário de fundação que tem como data oficial o dia 12 de outubro, Dia das Crianças e também feriado de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
A OAF é uma instituição sem fins lucrativos de caráter educacional, cultural e beneficente de assistência social, com o objetivo de acolher, educar, amparar e proteger crianças e adolescentes em situação de risco, exclusão e vulnerabilidade social.
“São crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados, na sua grande maioria, menores que perderam suas famílias, precisaram ser afastadas delas por alguma situação de risco, violência e vulnerabilidade e que são trazidas pelos Conselhos Tutelares, Primeira Vara da Infância e da Juventude, Polícias Militar, Civil e Central de Regulação do Município”, explica o gestor.
Ao chegar à OAF, a criança é acolhida e assistida por uma equipe multidisciplinar composta por assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros e técnicos em enfermagem e passam a residir em um dos sete apartamentos da instituição. Elas convivem com outras crianças da mesma faixa etária e são assistidas, em tempo integral, pelas chamadas mães sociais que são mulheres contratadas em regime de plantão para educar e cuidar dos acolhidos.
A OAF sobrevive atualmente com a ajuda de um convênio com a prefeitura – que custeia cerca de 40% das despesas – aluguel de espaços, eventos pontuais e principalmente de doações. A
Lojinha Solidária Glória Maria, inaugurada esse ano é outra fonte de captação de recursos. O espaço é também uma homenagem à jornalista e apresentadora da TV Globo que prestou serviços voluntários à OAF, em 2009 e também onde conheceu Laura e Maria, naquela época acolhidas e assistidas pela instituição e que após um processo de adoção, se tornariam suas filhas.
Atualmente a OAF dispõe de três berçários – onde vivem as crianças de 0 a 5 anos – e quatro apartamentos – voltados para crianças e adolescentes de 06 a 18 anos incompletos. Um total de 87 crianças e adolescentes (esse número pode variar, todos os dias) integram a família OAF.
Diariamente, as crianças participam de atividades lúdicas e educativas, elaboradas pela equipe técnica e voluntários com intuito de trabalhar o comportamento e as emoções e assim incentivá-las a despertar seus potenciais e ressignificar suas vidas.
Os institucionalizados ainda recebem acompanhamento de médicos, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde que oferecem trabalho voluntário.
Para além do trabalho social que a OAF desenvolve, há 65 anos, a instituição também tem parcerias com outros projetos a exemplo do Violinha Boa, idealizado pelos artistas Helon e Menininho, da banda Viola de Doze que oferece aulas de dança, canto e instrumentos musicais para as crianças e adolescentes acolhidas na instituição e moradores de comunidades carentes de Salvador.
A OAF também tem uma estreita relação com o NEOJIBA - Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia, onde alguns institucionalizados frequentam as aulas e caso desejem, podem desenvolver atividade profissional.
Sobre adoção
A adoção é um processo à parte, a OAF faz o acolhimento e oferece toda assistência aos institucionalizados, mas quem pretende adotar, deve dirigir-se a instância do poder judiciário, no caso aqui de Salvador, na 1ª Vara da Infância e da Juventude, no Jardim Baiano.
Após o contato, o adotante entra na fila do Cadastro Nacional de Adoção que é fiscalizado e acompanhado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). É preciso ter mais de 18 anos e 16 anos a mais que a criança a ser adotada.
Algumas das crianças são partes em processos de Destituição do Poder Familiar ou aguardam decisão judicial sobre um possível retorno para suas famílias. "Esses processos podem levar anos e muitas vezes as crianças crescem na instituição o que acaba dificultando ainda mais o processo de adoção já que maioria das pessoas prefere crianças mais novas", lembra Jozias Sousa referindo a dados estatísticos.
Outro evento
Ainda como parte das comemorações pelos 65 anos de fundação, a OAF vai reunir, no próximo dia 24 de outubro, juristas, assistentes sociais, profissionais da própria instituição e estudantes de diversas áreas para compartilhar suas experiências profissionais e vivências na área da adoção, durante o evento “Desmitificando os estigmas da adoção”, a partir das 13h30, no auditório da entidade.
O juiz titular da 1ª Vara da Infância e da Juventude, Dr. Walter Ribeiro que tem uma vasta experiência no assunto, estará entre os participantes, além da advogada, especializada em Direito Civil, Maricleide Teixeira e a assistente social, mestre em Saúde Pública, Ivone Simioni.
A participação no evento será mediante uma lata de leite em pó (400g) que deverá ser entregue no dia do evento. Toda arrecadação será destinada às crianças da instituição. Ao final do evento os participantes receberão um certificado que poderá ser contabilizado como horas complementares.
História
A OAF foi fundada pela saudosa professora e advogada, Dra. Dalva Matos que no final da década de 1940, ao ser convidada para trabalhar no juizado de menores, presenciou relatos de violências e abusos praticados contra crianças e adolescentes e, devido ao seu trabalho no Juizado, passou a visitar zonas de prostituição para observar de perto meninas que viviam nesses ambientes. Com seu olhar sensível e humano, percebeu que muitas eram analfabetas ou com baixo nível de instrução.
Assim nasceu o desejo de iniciar um trabalho social, amparado nos princípios da fé e amor ao próximo, com o intuito de oportunizar uma vida digna para essa população desprovida de direitos.
Assim, em 12 de outubro de 1958, Dona Dalva, como era mais conhecida, começou as atividades da OAF. Logo após a fundação da Instituição, criou a Escola Nossa senhora de Nazaré, num terreno localizado na Rua do Queimado. Inicialmente, a instituição dedicou-se ao abrigamento de dezenas de mães solteiras, posteriormente estendendo este atendimento às crianças, muitas dessas filhas das mães acolhidas.