Com participação decisiva no desenvolvimento de imunizantes contra a Covid-19, o HPV e a Chikungunya, núcleo alerta para a importância no combate à desinformação sobre as vacinas
Entre as estratégias para a promoção da saúde, a imunização ainda é uma das formas mais eficazes de prevenir doenças e salvar vidas. Em pleno mês de celebração do Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (8 de julho), a atuação do Brasil no desenvolvimento de vacinas acumula reconhecimento através do trabalho de núcleos como o Centro de Pesquisa Clínica (CPEC), das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Localizada em Salvador, a unidade completa 25 anos em 2024, destacando-se tanto no cenário nacional, com a participação decisiva na avaliação de imunizantes contra a Covid-19, o Papilomavírus Humano (HPV) e a Chikungunya – atualmente em fase de registro para distribuição, quanto em âmbito internacional, com mais de 130 publicações em revistas médicas e científicas renomadas. Com cerca de 80 pesquisas relacionadas à imunizantes, o centro baiano, que nasceu a partir de um convênio técnico-científico com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), traz ainda como resultado de seu trabalho o reconhecimento em estudos relacionados ao controle da diabetes, doenças infecciosas e fatores de risco para hipertensão.
“O investimento em vacina previne custos enormes e, o mais importante, salva vidas – e isso não tem preço. É preciso lembrar que foi através das vacinas que o Brasil conseguiu reverter graves epidemias”, ressalta o líder do CPEC, Edson Moreira. No período da pandemia da Covid-19, o centro de pesquisa da Bahia foi o segundo maior em número de voluntários para a vacina Pfizer/BioNTech no mundo, entre os 154 centros nos Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Turquia, África do Sul e Brasil. O ensaio clínico nas Obras Sociais Irmã Dulce foi realizado de agosto a outubro de 2020 e avaliou aspectos como segurança, tolerabilidade, imunogenicidade e eficácia das vacinas. A Pfizer/BioNTech (BNT162b2) tornou-se a primeira a receber o registro definitivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), concedido em fevereiro de 2021.
Atualmente, através do trabalho do CPEC, Salvador está entre as 10 cidades do Brasil participantes dos testes da vacina contra a Chikungunya. Coordenado pelo Instituto Butantã, em parceria com o laboratório Valneva da Áustria, o projeto concluiu a fase de estudos e aguarda análise da Anvisa e da Agência Europeia de Medicamentos (European Medicines Agency – EMA) para que obtenha registro para uso na população. Essa é a primeira vez que os dois órgãos reguladores trabalham em conjunto.
Destaque também para a atuação do núcleo baiano contra o HPV, cuja vacina completou uma década de inserção no Programa Nacional de Imunização (PNI). O Centro de Pesquisa Clínica foi um dos locais de testes durante o desenvolvimento da vacina que previne o Papilomavírus Humano, responsável pela infecção sexualmente transmissível mais frequente no mundo, e que está associado ao desenvolvimento da quase totalidade dos cânceres de colo de útero, bem como a diversos outros tumores em homens e mulheres. O CPEC participou da pesquisa relacionada à vacina da primeira geração (quadrivalente) e da segunda geração (nonavalente), que ampliou em 90% a proteção contra o câncer de colo de útero – o segundo mais recorrente em mulheres jovens – e a prevenção do câncer anal. O atual estudo em desenvolvimento no centro investiga o potencial do imunizante em prevenir também o câncer de cabeça e pescoço.
Desconfiança e desinformação são obstáculos – Embora o Brasil tenha avançado em relação à cobertura vacinal e à confiança da população nos imunizantes, uma pesquisa recente do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) constatou que 27% dos brasileiros ainda têm medo de se imunizar ou de levar uma criança ou adolescente para se vacinar. O estudo revelou que, entre as pessoas que se informam sobre saúde e vacinação por meio das redes sociais, uma em cada cinco já decidiu não tomar a vacina ou levar uma criança para se vacinar após ler uma notícia negativa nessas plataformas.
De acordo com Edson Moreira, a desinformação ainda é um dos principais fatores que afetam a credibilidade dos imunizantes, cenário que ainda persiste após o fim da pandemia da Covid-19. “Infelizmente, por conta da circulação de informações falsas, ainda existem aqueles que se posicionam contra a vacinação. É um percentual pequeno de pessoas com essa visão, mas é preciso que, junto aos investimentos na produção científica, a confiança em relação aos imunizantes e o reforço junto à população sobre a segurança e seriedade dos estudos sejam também uma prioridade”.
Os estudos para avaliação de uma vacina, explica o pesquisador, depende de uma série de etapas, como os estudos pré-clínicos, recrutamento de participantes, aplicação de doses e observação dos efeitos: “Um elemento importante nesse processo é a ética e o respeito aos usuários que participam das pesquisas, que são monitorados regularmente pelas equipes e têm o seu desejo respeitado quando desistem de participar”. Devido à minuciosidade dos estudos, muitas destas pesquisas chegam a durar anos, como é o caso da vacina contra o HPV, que levou uma década entre o início dos testes e o final da observação para se certificar quanto à segurança e à eficácia da vacina em longo prazo.
Nos casos emergenciais, a exemplo de epidemias graves, torna-se necessário o encurtamento desse período, o que não significa a exclusão de etapas. “O estudo sobre a vacina da Covid-19, por exemplo, não teve nenhuma etapa suprimida. Ela passou exatamente pelo mesmo processo de avaliação e validação das demais. Um projeto leva cerca de nove meses a um ano para ter uma avaliação ética. Não é que leve um ano olhando o projeto, é que tem uma fila, e o comitê se reúne uma vez por mês, então demora. Na pandemia, o comitê estava se reunindo todos os dias, e todo projeto relacionado à Covid era visto com uma semana. Então, só aí a gente ganhou um ano”, comenta. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 154 milhões de vidas já foram salvas desde a implementação do Plano Nacional de Imunização, criado há 50 anos e responsável pela erradicação de doenças como a varíola, a poliomielite e a rubéola.
As Obras Sociais Irmã Dulce– Fundada por Santa Dulce dos Pobres, as Obras Sociais Irmã Dulce abrigam hoje um dos maiores complexos de saúde com atendimento 100% gratuito do país. Entre o público atendido pela instituição filantrópica, estão pacientes oncológicos, idosos, pessoas com deficiência e com deformidades craniofaciais, crianças e adolescentes em situação de risco social, dependentes de substâncias psicoativas, pessoas em situação de rua e demais usuários do Sistema Único de Saúde. A organização conta com um perfil de serviços único no Brasil, distribuídos em 23 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas da Saúde, Assistência Social, Pesquisa Científica, Ensino em Saúde e Educação. Mais de 3 milhões de pessoas são acolhidas anualmente pela entidade na Bahia.
Fonte:Asccom HO